sábado, 16 de outubro de 2010

Sobre o Criador, o Cão e Caim


Muito se fala sobre o Senhor Deus, criador do Céu e da Terra, e de todos os povos que a habitam. Mas poucos com a acrimônia de José Saramago, nosso recém-falecido galardão das terras do Minho. Enfim, nesse livro, com sua conhecida verve, Saramago vai lentamente desconstruindo as historias do velho testamento, através de Caim, condenado por Deus a vaguear sobre a terra, palmilhando os caminhos sem descanso.
Através de encontros fortuitos, Caim vai parar em alguns dos pontos altos do velho testamento, como a subida de Abraão e Isaque ao Monte Moria, a destruição da torre de Babel, a queda de Sodoma e Gomorra (e mais algumas cidades onde se relaxaram os costumes, como o disse Deus em pessoa), a destruição das muralhas de Jerico pelo som das cornetas, e a paixão de Caim e Lilith. Discutindo sobre os objetivos de Deus em constantemente matar, massacrar, testar, assassinar e destruir seu rebanho, Caim vai chegando a conclusão mais importante sobre Deus, que o levou ao desenlace final, em pleno Diluvio. Caim não obedece o ritmo normal de passagem do tempo. No lugar, ele anda por diversos presentes, como ele os define. Presentes alternativos, como as paginas de um livro, alguns mais recentes, outros mais antigos.

Caim tem basicamente dois confidentes, ao longo da historia: Lilith, a rainha de Nod, futura Enoch, e seu jumento (afinal, jumentos são animais muito comunicativos, basta ver como eles mexem as orelhas, esse telégrafo que a Natureza os dotou). Os dois são alvo de suas reflexões e conclusões a respeito do mundo criado por Deus e seus agires para com esse mundo.
Francamente brilhante, um livro para apaixonar qualquer um que pense a Biblia.

By Adriano Sant'André

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